quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A Pele Que Habito (2011) (Pedro Almodóvar)

 
  Pedro Almodóvar traz o doce sabor da vingança amarga, cheia de ressentimento e psicose, obsessão, qualquer coisa que traduza aquela vingança buscada a todo custo, mais forte que o luto ou a mágoa, pois é latente, não crônica, como estas últimas. Um emaranhado de situações brutais nos traz para dentro dessa sucessão de erros e mágoas. E um final surpreendente. É difícil falar sobre esse filme sem revelar o enredo como um todo, mas vou tentar, mesmo porque quase todo mundo já tem uma ideia do que Almodóvar é capaz de fazer, com histórias tragicômicas, digna de novelas, ele transforma em filmes geniais, verdadeiras obras de arte, onde percebe-se nuances intrínsecas a sua obra peculiar, tais como: uma sensualidade quase esdrúxula, humor ácido, situações satíricas e sarcásticas, ou realmente dramáticas. Nesse filme, cujo protagonista é um médico, que perdeu a filha, que tinha ficado esquizofrênica após sofrer abuso sexual em uma festa de casamento, esse médico e pai, viúvo, ressentido, e rancoroso, eu diria, o que o torna um anti-herói, pois eis que ele fica tão abalado com a perda da sua filha, que ocorreu da mesma forma da morte da sua mulher: ambas se suicidaram - em contextos e épocas diferentes. Assim, o diretor mais uma vez trata de temas pesados de forma que chega a ser leviana, mas não menos profunda: suicídio, assédio, esquizofrenia (a filha do médico, que se suicida), a perversão / psicose / obsessão (no caso do personagem principal que se vinga, ou do assediador de sua filha), da neurose, que seja, quando o desejo de reparar um erro se acaba tornando pior que o próprio erro em si. No entanto, não é um filme moralista sobre a vingança, pois as consequências são inesperadas. E mais uma vez, Almodóvar consegue tornar o que seria o roteiro de um dramalhão em um filme de tirar o fôlego.

por Gabriela Ziegler (editado de texto original de março de 2012)

Nenhum comentário:

Postar um comentário